quinta-feira, 28 de abril de 2011

Imponente e Impiedosa

O Luto das Aranhas
Ela tece sua teia pacificamente,
sem se importar com o que acontece ao seu redor.
Imponente e impiedosa, não dorme, não descansa,
até que consiga chegar ao fim.
Sonha acordada, como predadora que é,
em qual será a próxima refeição.
Qual seria o próximo desavisado
em que aplicaria seu veneno poderoso.
Por fim, ao tardar da noite, termina.
Cansada, repousa em um canto,
pronta para sentir qualquer movimento
ou criatura que encostasse em sua obra.
Dorme, como sempre,
pronta para reagir ao menor movimento.
Horas depois, sente.
O movimento é sutil,
então percebe que não é um inseto preso.
É algo mais.
Algo que nunca vira antes.
Ela o vê, na outra ponta da teia,
andando como se fosse feito
para resistir à sua perfeita armadilha.
Não entende porque ele não para.
Não entende porque ele continua vindo.
Seria uma ameaça?
Não, nada é uma ameaça à imponente viúva-negra
e sua peçonha letal.
Se ele tentasse algo, ela o mataria.
Então ela entende.
Ele fora feito para ela.
Ele tem que estar ali,
para a cópula e a procriação.
O cheiro dela o atraía,
e ele fora feito para resistir
às ameaças que ela representava.
E então ela se rende, e vai até ele.
Sem tensão, sem medo.
Mas com a certeza de que,
no final de tudo, ela terá que matá-lo.
Só que ele estava disposto a morrer por ela.
Apesar de ela representar o fim de sua vida,
a sua atração por ela é maior.
Ele se sacrifica para o seu breve prazer
e para o futuro da espécie.
Sem nem pensar, sem discutir.
Ela é o seu passado, presente e futuro.
E o futuro dela se resume ao luto.
Pra sempre,
até a morte,
uma viúva negra
...

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